Quem não tem cão, caça com gato
Aspirina para a
solidão
Ela não estava apaixonada por
ninguém. Não sonhava com ninguém. Não tinha um número de telefone fixo para
ligar quando queria conversar, tomar um vinho, viajar no feriado ou desejar boa
noite.
Ela não sofria por ninguém. Não
tinha medo de perder ninguém. Não sentia ciúmes de ninguém. Não tinha nada que
fosse tão bom a ponto de criar fantasmas e chorar de medo.
Não estava sentindo nada. Nem
vontade de rir e nem de chorar.
Não sentia nada.
Seguia o roteiro do dia-a-dia e
voltava cansada. Tomava um banho longo e um copo de whisky quando estava de
cabeça cheia, e ia dormir em sua cama grande cheia de almofadas.
Não era ruim. Não era bom.
Simplesmente era.
Na sexta uma amiga ligou. Um
convite. Uma festa. Umas garrafas de cerveja.
Risadas, encontros, amigos
recentes, quase melhores amigos depois da quinta garrafa.
Ele era não muito alto, magro e
usava óculos. Tinha o cabelo liso e quase loiro.
Bonito. Não muito inteligente,
mas bem simpático. Falava pouco e olhava muito para ela.
Ela se faz bonita, arrumou a
postura, sorriu mais discretamente e olhou para ele também.
Puxaram um assunto qualquer que
os isolou de todos que estavam na mesa.
Pediam mais cerveja e riam mais
alto.
Concordavam em quase tudo, só
porque era mais fácil concordar.
Não falaram sobre o tempo, mas
também não discutiram os efeitos do superaquecimento global.
Falaram sobre qualquer coisa que
pode ser interessante numa mesa de bar.
Ele se ofereceu para leva-la para
casa.
Ela aceitou.
Quando entraram no carro se
atracaram imediatamente. Beijos, mãos, pernas, cheiros, cabelos, botões,
colchetes e o gozo.
Ela riu depois. Ele perguntou por
quê. Ela o beijou e pediu para ir para casa.
Não trocaram telefone. Mas foram
embora felizes.
No dia seguinte ela dormiu até
meio dia. Acordou e fez café.
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